Existe no mercado uma grande diversidade de argamassas industrializadas de uso imediato no canteiro de obras, entretanto, ainda é muito comum a elaboração tradicional da argamassa nas construções, em que são adquiridos separadamente o cimento e os demais itens que fazem parte da argamassa.
No caso das obras tradicionais, costuma ser feito um revestimento de parede formado por três camadas: reboco, emboço e chapisco. O reboco possui uma fina espessura, com o objetivo de preparar a parede para o acabamento, no caso da pintura. O emboço serve para regular a superfície, sendo que não pode ter mais de dois centímetros de espessura. Quanto ao chapisco, ele é importante para a aderência do emboço, que não deve se soltar.
Para se preparar a massa do emboço, normalmente é usada uma mistura formada por barro, areia e cimento. O barro tem a função de liga, para que a mistura fique mais plastificada, pois ajuda a espalhar a argamassa mais facilmente. O barro também costuma ser muito usado por ser barato, além da facilidade de obtê-lo na natureza.
Porém, essa aplicação do barro enraizada na nossa cultura, deve ser extinta, pela simples razão de oferecerem baixa durabilidade e resistência, ainda mais se a construção estiver em uma região muito úmida, pois o barro nessas condições costuma se contrair e expandir, formando fissuras e degradação das paredes.
Por isso, o substituto ideal para o barro é a cal hidratada, que além de evitar esses problemas, acrescenta diversos benefícios para sua argamassa. Para compreender os atributos da cal é importante abordar sobre o processo de sua obtenção na natureza, que se inicia com a extração de rochas carbonatadas de calcário (é um tipo de rocha formada principalmente de carbonato de cálcio).
Para se obter o agregado, a rocha é submetida à ação do calor, em um processo chamado de calcinação, em fornos específicos, que mantém a temperatura de 850 a 1.200 °C. Através da reação com o calor, o carbonato de cálcio se decompõe e forma o óxido de cálcio (cal), além do dióxido de carbono, se desprende e tem como resultado somente a cal.
A cal que é obtida pelo processo de aquecimento é a chamada cal aérea, viva ou virgem. Nesse momento ainda não está pronta para ser usada, pois precisa passar por um procedimento de moagem, e dessa forma é misturada à água em porções adequadas. Dessa forma surge o hidróxido de cálcio, ou seja, a cal hidratada.
Assim que a cal hidratada integra a argamassa no seu preparo, acontece a seguinte reação química: a água em excesso evapora e o dióxido de carbono que está na atmosfera entra no revestimento, formando a “rocha carbonatada”. Dessa forma, a cal hidratada retoma às suas condições originais na natureza, transformando a argamassa em um material resistente e estável.
Percebemos também de que o processo de endurecimento da argamassa ocorre de uma maneira lenta e gradual, de fora para dentro, necessitando de uma superfície que tenha uma determinada porosidade. Dessa forma permite que a água em excesso evapore, e simultaneamente permite que o dióxido de carbono que existe na atmosfera penetre na argamassa. Como esse endurecimento é lento, costuma se adicionar cimento à argamassa, para que proporcione a resistência e aderência adequadas.
Vale lembrar que as paredes com revestimento de argamassa com cal hidratada não podem ser pintadas imediatamente. É preciso aguardar um período mínimo de 30 dias, para que o revestimento fique impermeável e proporcione maior durabilidade à pintura.